Já é perto das dez, eu estou sozinho em meu escritório, em cima da mesa tem uma xícara de café velho e três livros daqueles que contam histórias modernizadas, hoje o céu não tem muitas estrelas e da janela do meu apartamento eu posso ver dois jovens sentados perto de uma grande arvore.
Eles trocam olhares e cochicham coisas que aqui de cima é, praticamente, impossível de descobrir sobre o que falam, a não ser pelo excesso de gestos que um deles faz ao falar. Logo, percebo que eles falam a respeito de um menino que está alguns metros à frente.
Se me permitirem eu posso descrevê-lo, com todo respeito, eu gosto de contar os detalhes alheios. Ele é meio alto, tem 23 anos, não sabe de onde veio e nem compreende o que sente, a única coisa que ele sabe é que mais alguns passos que ele der, ele estará em frente à uma situação constrangedora.
Devagar ele vai se aproximando meio receoso, chinelo na mão, olhar abatido, face cansada, coloca a mão nos bolsos e pega uma pequena medalha a qual aperta contra o peito. Ao chegar a frente a aqueles meninos ele é zombado, ferido, mas não aquelas feridas que se curam com esses remedinhos da mamãe, são feridas na alma, que o levam a uma atitude inesperada, calma eu preciso me recompor, levanto-me de minha confortável poltrona, dou alguns passos em direção a minha sacada com a minha xícara na mão, não desperdiço nem um momento, atentamente percebo aquele pobre jovem, correr, chorar, enfim, se sentir só, sentir-se lixo.
Dois meninos, dois tipos de ignorância, preciso ir ao banheiro, repouso minha xícara sobre minha mesa, deixo a cena por alguns minutos e quando volto La estava a maior surpresa, o mesmo jovem que outrora zombado, agora com uma arma na mão quer livrar-se dessa humilhação. É horrível, ele grita, faz gestos e diz que não aguenta mais ser alvo de zombarias. Eu como todo bom espectador mantenho meus olhos fixos nele, de repente uma nuvem de fumaça, o estouro e a pólvora.
Dois meninos, dois tipos de ignorância e dois corpos mortos no chão.
Devagar tomo meu ultimo gole de café, limpo os cantos da boca em meu casaco e volto a escrever.
adooooorei
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