São quatro e quarenta da manhã e eu estou tão agitado. Vagando de um lado para o outro, em busca de uma explicação de um porque, de um talvez ou simplesmente, à procura de um adeus.
Eu não tenho medo de gigantes, eu não tenho medo da morte. Eu tenho medo da ausência.
- Ausência de que afinal? - perguntou-me Onofre Galvão, sindico do prédio, que ao me ver andando apressado, questionou com um ar de arrogância como se não me faltasse nada.
- Ausência de um dente da frente, vês? - Respondi com um tom refinado, pois me sinto assim. Sem um dente da frente, sem um atrativo.
Ontem a noite fez frio, eu fiquei frio.
Eu olhei e pela janela vi um pequena e frágil boneca de porcelana, a qual estribuchou-se ao chão quando repentinamente, como num ato de vandalismo frio, eu a joguei contra a parede. Ela morreu e nem se quer se defendeu.
Um golpe certeiro que me tirou um dente da frente.
Na verdade o dente é apenas uma ilusão, o que tem ausência em mim é coragem de me ser e de me viver. E isso tomou conta de mim, a ponto de me fazer "mal-tratar-mal" quem mais me amava, pobre Dorotte. Morreu por ausência de amor em mim. Até quando Deus?
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